O Alienista

Terça feira, dia 22 de janeiro, às 15:15h e 17:00h temos teatro na ESAG. O ator brasileiro, Gustavo Ottoni apresenta-nos a sua interpretação de um texto de Machado de Assis.

Texto de Machado de Assis

Adaptação, concepção e interpretação de Gustavo Ottoni

“…Em outros termos; demarquemos definitivamente os limites da razão e da loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia e só insânia…”

Partindo dessa premissa, Simão Bacamarte empreende sua jornada e constrói sua teoria a respeito das patologias da mente. Mergulha em sua pesquisa profunda e honestamente, sem imaginar as conseqüências de seus procedimentos. A partir daí constrói e destrói relações, reafirma e critica sua própria teoria, destrói as primeiras conclusões e constrói outras, que por sua vez levarão a outras novas.

Construir e destruir; eis aí uma qualidade humana que a razão nos proporciona. Vivemos sempre nessa via antagônica, construindo e destruindo, para de novo construir, e outra vez destruir, assim desenhando nossa estrada pela História. Me parece que somos o único animal que constrói para depois destruir, isto porque somos dotados da tão exaltada razão, este conceito que nos distingue dos irracionais. E assim não somos? Desenvolvemos o conhecimento nuclear, que gera energia e desenvolvimento em inúmeras áreas, e esse mesmo conhecimento nos possibilita destruir em um átimo. Vivemos a construir nossos amores e famílias, e também a destruí-los em prol de outros amores e famílias. Construímos nossos edifícios, e depois os destruímos para construir outros mais altos. Assim faz Simão Bacamarte na busca das fronteiras entre a razão e a loucura, chegando a destruir seu próprio casamento para – é lógico – depois o reconstruir.

Mas escapou do ilustre médico um pequeno detalhe; não existe tal fronteira. Em seu gigantesco conhecimento, rói um pequeno verme de ignorância. Esta ínfima lacuna é incapaz de ser preenchida, e assim seu destino é a solidão total e absoluta; um sábio encarcerado na Casa Verde de sua sabedoria.

Assim é também minha leitura esquizofrênica de “O Alienista”. Solitário no palco vivo a construir os personagens, mas preciso desmontá-los em favor de outros, mas preciso também voltar aos primeiros, que abandono quando surgem outros novos, e nesse vórtice de personalidades só um destino é possível: a solidão extrema de Simão Bacamarte, encarcerado em sua própria criação. Porém esta solidão não tem nada de solidão; estou com todos os Padres Lopes, todas as Evaristas, todos os Porfírios e Crispins, que são todos os espectadores. E todos somos Simão, buscando sempre separar em nossas mentes, o que é certo e o que é errado, o que é razão e insanidade. E assim continuamos solitários nesse mundo, já que só nós somos possuidores das chamadas “luzes da razão”.

Gustavo Ottoni

 

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